Agnès Fornells.

texte en portugais

Óscar Faria

A chegada ao ateliê de Agnès Fornells foi acompanhada da sensação de que algo se havia ali passado umas horas antes, tão bem arrumado ele estava. Não se percebia bem o quê, mas, de facto, um segredo insinuava-se em cada canto do espaço de trabalho da artista: reunião proibida? Festa ilegal?

Sem resposta, avançamos para receber alguma informação de Fornells: lugares por onde passou - sobretudo Espanha e México -, a sua recente experiências com cerâmica, e uma constante: a transposição da rua para o contexto artístico através de diferentes disciplinas, sobretudo a fotografia e escultura.

As obras tridimensionais prolongam, de certa forma, as imagens captadas na vida quotidiana das grandes cidades, mantendo a sua qualidade de fixar um instante, congelando-o no tempo, de forma a prolongar a sua existência, sublinhando muitas vezes objectos que tendem a fugir do nosso olhar.

Agnès Fornells consegue assim, através de diversos deslocamentos, linguísticos, espaciais, formais, espelhar simultaneamente a intensidade e a solidão que percorre a existência humanas, os seus desperdícios e sua gramática povoada de belos erros e palavras contundentes.

Se a rua é o sítio ideal para nos entregarmos ao acaso, tal como fizeram surrealistas e situacionistas, o ateliê é o sítio da mágica transmutação desse lugar comum numa comunidade onde a partilha do sensível adquire uma dimensão poética que resiste a qualquer apropriação teórica.

Como se lê numa obra da artista : « El pueblo se rev/bela ».

Texte en portugais d’Óscar Faria à propos de la pratique d’Agnès Fornells suite à une visite d’atelier lors du Curator tour organisé par air de Midi au Portugal en 2022.